
Joana Prudêncio, Psicóloga Clínica
O nascimento de um segundo filho é acompanhado por novos desafios. Além dos pais terem de lidar com todos os medos e receios de uma nova gravidez, têm mais uma preocupação e é preciso lidar com ela com tranquildade.
É muito importante que os pais estejam bem neste momento das suas vidas, pois a chegada de uma nova criança é geralmente sentida com alguma desorganização. É um momento sentido por todos com uma enorme alegria, mas também com algum receio. É uma mudança - e deve ser encarada como tal -, mas o importante é que se tente programar essa chegada com alguma antecedência.
Como dar a notícia?
O primeiro passo é contar ao filho mais velho que terá um irmão, sempre com a ideia de que as reações serão diferentes consoante a idade. E isto deve ser feito da maneira mais simples: sendo frontais e pondo os receios de lado! As crianças são seres mais simples do que os adultos e, normalmente, são os pais que mais complicam.
"Uau, vou ter um mano para brincar!"
A notícia é, geralmente, sentida pelos filhos mais velhos com alegria. No entanto, mesmo durante a gravidez, as crianças podem sentir algum ciúme quando percebem que a atenção começa a ser desviada na direção de um ser que ainda nem chegou.
Quando se tratam de crianças mais pequenas acaba por ser mais fácil comunicar a notícia, uma vez que a ideia de ter um irmão é ainda muito abstrata em idades mais precoces.
Então, o que fazer para que tudo seja harmonioso?
Apostar na comunicação, na linguagem falada e na linguagem dos afetos. Se as palavras têm um poder enorme, o nosso comportamento muito mais.
Evitar dizer ao filho mais velho "agora não posso, porque vou dar banho ao bebé". O bebé nunca poderá ser a razão pela qual os pais não têm tempo para ele. Porque não tirar um tempo para ficarem enroscados no sofá a ver os seus desenhos animados favoritos? E caso os pais se sintam muito cansados, e como sabemos que as crianças podem ser muito exigentes, porque não contar com as ajudas de outras pessoas? Organizar um tempo para brincar com um amiguinho ou deixar o filho mais velho ir passear com os avós podem ser excelentes alternativas. Isso dá aos pais a oportunidade para respirarem e armazenarem novas energias. Não faz mal pedir ajuda. Se uma criança já dá trabalho, duas, então, nem se fala.
A alteração da rotina
Como se sabe, as rotinas são muito importantes para a estabilidade da criança e a chegada de um bebé pressupõe algumas mudanças. É importante que se prevejam essas mudanças e que se façam as alterações com antecedência.
Para facilitar a rotina de dormir, por que não ser o pai a contar a história e a deitar a criança? A mãe depois vai dar um beijinho, mas a criança já não associará a mudança ao irmão. Se o filho mais velho ainda dorme no quarto dos pais, é importante que essa transição seja feita uns meses antes, para que ele não sinta a diferença e tenha tempo de se adaptar a esta nova rotina.
Não quer dizer que seja o pai - ou a mãe - a assumir os novos papéis, mas se o usual é que seja a mãe a ajudar o pequeno em determinado momento, é importante que os pais comecem a partilhar essas tarefas. Depressa os pais vão perceber, também, que é possível adquirir novas rotinas e adaptá-las à família sem dramas.
A (des)atenção da mãe
As mães, mais uma vez, têm que gerir um novo momento de crescimento e de encarnar o novo papel - serem mães de duas crianças. Têm que gerir os seus próprios sentimentos enquanto enfrentam o seu maior medo: a possibilidade de causarem danos aos filhos mais velhos, que costumavam receber toda a atenção.
Os pais, estando atentos aos seus filhos, percebem quais as suas necessidades. É preciso perceber que, na perspetiva do filho mais velho, este é um bebé que vai andar sempre ao colo (o tempo de aleitamento é visto também como tempo de colo), pelo que será importante dirigir a sua atenção numa outra direção durante esse período. Quando a mãe está a amamentar o bebé, o pai pode desafiar o filho mais velho para uma atividade de que ele goste muito, algo benéfico para ambos. Porém, é importante que a mãe também se organize para poder ter algum tempo exclusivo com o filho mais velho.
O papel do irmão mais velho
É crucial que o filho mais velho seja envolvido em tudo o que diz respeito ao seu irmão. Consoante a idade, pode ajudar nas tarefas. O que importa é que se sinta útil e desejado naquele novo núcleo familiar.
Quando o bebé nascer, este poderá trazer uma prenda para o mano mais velho. E que tal devolverem o gesto, levando a criança a comprar um presente de boas-vindas para o bebé?
E as visitas?
Quando há uma criança mais velha, recomenda-se que as visitas levem também um presente para o mais velho e que o cumprimentem em primeiro lugar. O bebé não vai sentir essa preferência, mas a criança vai ficar muito contente por ser o foco das atenções. Tentar instruir as visitas a pedirem que seja o irmão a apresentar o bebé pode também fazer com que este se sinta mais valorizado.
A regressão dos comportamentos
As crianças comunicam essencialmente através do comportamento, pelo que é importante que os pais o usem como a sua linguagem.
Temos, assim, que considerar a possibilidade de haver algumas regressões relativamente a etapas de desenvolvimento já adquiridas (voltar a querer usar chupeta, por exemplo). Apesar de destruturantes para os pais, são reações normais e é importante que haja muita calma e compreensão relativamente a estas questões, mas também que continuem a lidar com as alterações de comportamento como antes: se antes não permitiam as birras, agora também não o devem fazer. Esta é uma fase que, tal como todas as outras, vai acabar por passar.
É fundamental, assim, reconhecer que os pais são os verdadeiros conhecedores dos seus filhos, pelo que confiar nesse princípio, estar atentos aos filhos, e entregar-se às suas próprias convicções é a melhor forma de agir. E com essa certeza e uma grande dose de amor, não tem erro!
Artigo originalmente publicado na segunda edição da Revista De Mãe para Mãe, em janeiro de 2020.